Friday, October 26, 2007

George Steiner em Portugal


George Steiner: A ciência terá limites?


Emílio Rui Vilar, responsável pela vinda de Steiner a Portugal


A conferência teve como palco o auditório 2 da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa


O "paper" da Conferência "Is Science nearing its limits?" apresentado por George Steiner deverá ser disponibilizado em breve pela Fundação Calouste Gulbenkian. Quem assistiu à abertura, quinta-feira de manhã (25.11.2007), em Lisboa, pôde extrair boas questões para alargar o pensamento sobre a Ciência e os seus limites.

O discurso de Steiner, com 13 páginas (de um texto espremido em 45 linhas), muito tem a dizer para a comunidade global, não só da esfera científica. A gente se sente meio que burra diante de uma personalidade como George Stenier, que no primeiro fôlego já cita Arquimedes. Ele fez um apanhado geral das diversas áreas científicas, como vêm se debatendo, as várias frentes de pesquisa, os avanços, as incógnitas, as linhas convergentes, o que está por vir....

Aqui registo apenas um trecho no qual George Steiner faz uma observação muito apropriada entre a ciência e a comunidade, e a linguagem comum que os cientistas devem encontrar para uma efectiva aproximação: "(...) The sciences must be prepared to engage, on terms intelligible to educated women and men, in the moral, political, social debates which their findings and sequent applications entail. Molecular biology, genetics, the neurological investigation of the cortex raise conflictual issues directly pertinent to the life of the individual and of the community. Scientists – and this will arouse hostility – must learn to ‘lose some of their time’in didactic, forensic and civic debate with their often ignorant, prejudiced and traumatized societies. The self-isolation of vital branches and instituitions of research from the communities which sustain them, the readiness of scientists to accept censorship and concealment in the name of national security, have been ominous. The charades which surround the possible impact of cloning are a case in point. A common language, a shared acceptance of responsibility beyond the patronizing manipulation of the media must be found (...)".

Não pude perceber tudo o que Steiner disse durante a conferência, primeiro porque tenho a sensação de ainda ser um bebê a engatinhar pelas questões da Ciência, segundo porque nos primeiros momentos em que estive a fotografar, não utilizei os fones da tradução simultânea (para não interferir na reportagem fotográfica), o que foi uma pena. Mas logo que pude ouvir o discurso em português, alguns pontos chamaram-me a atenção. Estava no final quase, mas entre outros fôlegos para dizer tudo a que veio a Portugal, Steiner disparou que enquanto milhares crianças morrem de fome no mundo, "(...) twenty million Americans are convinced that Elvis Presley has risen from the dead. The financiers of Wall Street and the City of London arrange their furniture according to the ordinance of pseudo-Oriental animism...Faith-healing and every brand of mystical therapy rakes in hundreds of millions in profit. Terming themselves 'life councilors' unscrupulous gurus feed on the abject neuroses of the privileged".

Convidado por Emílio Rui Vilar para ser um dos "keynote speakers" dessa conferência, Steiner sugeriu a questão dos limites da ciência e ainda os nomes para os vários temas abertos. "O seu papel essencial no pensamento crítico e na intransigente defesa dos valores humanistas seria uma forte e indiscutível contribuição", destacou Vilar durante a apresentação da Conferência.

Nas palavras do presidente da Fundação, o tema aponta para uma crise na ciência, subtamente próxima dos seus próprios limites, subtraída que estaria da sua característica dominante ao longo dos séculos, sobretudo quando comparada com a "outra" cultura. "Tal como o próprio Steiner enunciava no seu 'Castelo do Barba Azul', em 1971, 'a divergência efectivamente decisiva que existe entre as sensibilidades humanística e científica é uma questão que tem a ver com o tempo. Quase por definição, o cientista sabe que o amanhã será um avanço em relação ao dia de hoje (...). Para o cientista, a curva do tempo é positiva. O humanista, de modo inevitável, olha por seu turno para trás. (...) As noites do cientista tendem obviamente para o amanhã, e santo è l'avvenir' (pág. 136)".

Ainda de acordo com o 'paper' de Steiner, a crise actual da ciência poderá dever-se a três ordens de razão, segundo observa Vilar:

1) Em primeiro lugar, porque os meios de observação da natureza à disposição dos cientistas poderão estar a aproximar-se dos seus limites tecnológicos;

2) Em segundo lugar, porque a ciência estará a passar por uma crise de comunicação interna, com os seus múltiplos ramos a não conseguirem articular-se entre si, deste modo perdendo-se a coerência e a reciprocidade que permitiram à ciência avançar como um todo;

3) Em terceiro lugar, e por último, a crise da ciência resultará também das consequências que podemos extrapolar dos teoremas de Godel, segundo os quais, nenhum sistema matemático pode ser reduzido a uma autosuficiência axiomática, o que, em última análise, significa que em qualquer sistema haverá sempre proposições que não poderão ser demonstradas.

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"George Steiner é um dos grandes humanistas europeus contemporâneos. Um verdadeiro 'cartógrafo' da cultura europeia, que sabe como poucos, à maneira dos antigos, recebê-la, contextualizá-la, dar-lhe um sentido e, sobretudo, reinterpretá-la numa lógica de esperança possível. Se a Europa, e o Mundo, caíram e parecem ciclicamente cair no obscurantismo ou na 'inunamidade', a possibilidade de olhar em frente sempre foi a única opção, pois, 'abrir portas é o trágico preço da nossa identidade', para utilizar uma expressão do próprio Steiner", Emílio Rui Vilar
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Além de George Steiner, estiveram presentes na Conferência os professores e cientistas Dieter Lüst, Peter Woit, Gerald Edelman, Wolf Singer, Luís Alvarez-Gaumé, Lewis Wolpert, Helga Nowotny, Eörs Szathmáry, John Horgan, Freeman Dyson, Laura Bossi e Jean-Pierre Luminet, com sessões presididas pelos cientistas nacionais Gustavo Castelo Branco, Luís Moniz Pereira, João Ferreira de Almeida, Maria do Carmo Fonseca, António Coutinho e João Caraça.


(continua)...

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